O termo cloud – ou nuvem, como preferirem – entrou definitivamente no vocabulário de todos os dias, mesmo que muitas vezes não se perceba muito bem do que se está a falar, ou se pretenda transmitir uma ideia que não é necessariamente aquela que o nosso interlocutor entende.
De uma maneira geral, cloud pretende designar normalmente aquilo a que chamamos cloud pública – uma infraestrutura de centro de dados que é propriedade de uma determinada empresa ou entidade e que é partilhada por inúmeros utilizadores, empresariais ou individuais. Exemplos de cloud pública são as várias aplicações da Google, a OneDrive, a Dropbox, o Facebook, etc..
Existem vantagem e desvantagens relativamente aos serviços suportados em infraestruturas de cloud pública – os custos tendem a ser mais reduzidos (embora não necessariamente…) mas, por outro lado, problemas relativos à segurança, à confidencialidade e à acessibilidade dos dados pesam do lado das desvantagens.
Acontece porém que há cloud pública e… há cloud pública. Ou, dito de outra maneira, existem diferentes formas de abordar serviços sobre infraestruturas de cloud pública e é importante que as empresas saibam que existem um leque de opções ao seu dispor antes de, cegamente, optarem por uma determinada solução sem antes perceberem as diferenças entre as opções disponíveis – ou sequer que existem diferentes opções!
A cloud descomplicada
Da mesma forma que falamos de diferentes tipos de cloud é igualmente importante perceber que as empresas, quando abordam o mercado fazem-no no sentido de obter uma solução para os seus problemas. Na prática, não estão interessadas em distinguir um terabyte de um petabyte e muito menos em decifrar crípticos contratos que dificilmente permitem perceber quanto irão ter de pagar ao final do mês.
E é aqui que se torna claro que, da mesma forma que na natureza há diferentes tipos de nuvens, também nem todas as nossas clouds informáticas nascem iguais – ou se apresentam iguais perante quem delas precisa.
Quem contrata um serviço de cloud pública tem de, primeiro que tudo, identificar o que pretende. Apenas armazenamento? Um serviço de backup para o seu sistema informático? Email? Aplicações sempre disponíveis a partir de qualquer máquina e em qualquer lugar? Um pouco de tudo isso, mas de forma integrada?
Qualquer um destes serviços, quando encarados de forma individual, podem ser implementados de forma relativamente fácil mesmo por empresas com poucos ou nenhuns recursos informáticos internos. No entanto, as coisas tornam-se mais complicadas quando o que se pretende é um serviço de cloud que assegure tudo, desde o armazenamento às aplicações e aos serviços que têm de estar disponíveis a todo o momento.
Num cenário deste tipo, as empresas – especialmente micro e pequenas empresas sem recursos internos especializados em TI ou até mesmo médias empresas que procuram simplificar a gestão de sistemas informáticos – têm toda a vantagem de contratar serviços na cloud, mas tendo o cuidado de procurar uma entidade que possa implementar todo o processo, retirando-lhe a complexidade que muitas vezes lhe está associada.
Cloud pública… privada
Existe uma nova geração de empresas de serviços de informática que tira partido das infraestruturas de cloud pública oferecendo o que é, na prática (pelo menos do ponto de vista do cliente) uma cloud privada. Muitas destas empresas retomam no fundo o conceito do ASP (Application Service Provider), que foi o primeiro ensaio de serviços de cloud pública numa altura em que ainda não tínhamos todas as peças no lugar, e que evoluiu para o que hoje chamamos genericamente SaaS (Software as a Service).
Levando esta lógica ao extremo, e pensando em pacotes de serviços completos e integrados, é possível já hoje oferecer a muitas empresas o que é, na prática, um verdadeiro “IT as a Service”; a empresa que contrata o serviço pode passar a encarar a informática como uma “utility” ao mesmo nível da eletricidade ou da água – tem o que precisa, quando precisa e paga apenas o que utiliza.
As empresas que oferecem este tipo de serviço utilizam infraestruturas do tipo cloud pública para, através de implementações próprias de hosting, poderem oferecer aos clientes o que é, na realidade, uma verdadeira cloud privada em que existe total controlo e acesso físico aos dados e, claro, um interlocutor direto com quem é possível discutir qual o leque de funcionalidades necessárias, de que forma são implementadas, como podem ser escaladas, etc.
A moral desta história é a de que a cloud é de facto real – mas convém perceber que a forma como a abordamos e dela tiramos partido é que faz efetivamente a diferença nos resultados.
António Belém
In: Computerworld, 5 de Maio de 2014